quinta-feira, 8 de março de 2012

o cochicho


Tudo começou com um cochicho.
- Laurindo … O laurindo … O LAURINDOO!!
- Felipe! Cala a porra dessa boca, seu gordo! – disse Laurindo cochichando a Felipe – Você tá gritando, gordo maldito! Vai acordar todo mundo!
- Foi mal , foi mal, pô …
- Eu falei para você! Se continuar a fazer merda eu deixo você ai e vou embora!
- Cara, eu já disse, foi mal…
- Felipe, você fala isso porque nunca foi currado na cadeia, filho da puta. Por que, se tivesse … ia tomar mais cuidado com essa bunda gorda.
- Tá .. xiiii .. to quietinho agora.
- Vem cá! Faz pézinho para que eu pule o muro.
- Ok .. xiiii …
Laurindo conseguiu subir em cima do muro da casa com a facilidade que qualquer gatuno herda em seu nascimento. A casa não era lá aquelas coisas, mas com certeza devia ter alguma coisa que servisse como presente de Natal, prontinho para ser roubado . E olha, eles nem seriam tão exigentes a ponto de pedir que o presente viesse embrulhadinho. A casa estava com as luzes totalmente desligadas, e os dois ladrões passaram a semana inteira pela rua para observar a casa e os seus moradores. Uma loiraça bem bonita, com aqueles peitões que só vimos em filmes pornôs norte-americanos, tinha também o marido dela, que era um bostão de um ricaço que teve sorte na vida e, por fim, uma velha com seus sessenta e poucos anos que, na verdade, parecia ter uns noventa e tantos de tão feia que a lazarenta era! Sim, só os três moravam naquela casa …
- Porra! O cara tem mó pinta de mandachuva e mora numa casinha tão xumbrega assim ?
- Você não sabe nada desses ricão Felipe, na parte de fora da casa deles é tudo bem zoado assim … mas por dentro, meu caro amigo balofo, ahhh sim … lá dentro é outra coisa!
- Verdade, nunca tinha pensando nisso Laurindo. Caramba cara, tu é muito ingeligente!
- Eu sei, eu sei … agora espera que vou pegar a chave ali onde eles escondem e abro o portão para você.
Laurindo parecia mais um gato do que um ser humano. Os muitos anos como ladrão o ensinaram como andar sem fazer o mínimo barulho, podia até andar sobre o vidro quebrado se precisasse, e mesmo assim, não ia fazer nada de barulho! Laurindo correu de fininho e pegou a chave reserva que ficava dentro da caixinha de correios e com a mesma leveza nos pés, foi abrir o portão para que aquela jamanta entrasse na casa e ajudasse a garantir o natal dos dois.
Bem, veja … no Natal ninguém espera ser assaltado, sempre tem toda aquela melação sobre família, presente, espírito nobre e qualquer outra babaquice que você esquece logo, logo quando você divide uma cela superlotada com um monte de macho esperando carne nova.
- Felipe, eu vou fazer o seguinte … eu vou abrir a porta da casa e vou para o andar de cima da casa e enquanto eu estiver lá em cima, você faz o rapa das coisas mais valiosas da parte de baixo da casa, certo ?
- Sim, sim .. pó deixa!
( Não sei porque, mas toda vez que chamo esse gordo dá merda! )
Laurindo pegou a chave que ficava debaixo do tapete da porta da casa e colocou cuidadosamente a mesma no trinco, tomando o máximo de cuidado para que não fizesse nenhum barulhinho sequer!
Clac …
ISSO! Agora era só entrar e brincar de Papai Noel!
Ele abriu a porta e entrou de passo em passo, fazendo um sinal para que Felipe ficasse lá fora até segunda ordem.
- PORRA! Era disso que eu tava falando!
A casa, realmente .. era muito feia por fora, mas aquele playstation 3 e a TV de sessenta polegadas logo de cara na sala de entrada mudava qualquer opinião preconceituosa sobre aquela casinha mirradinha por fora, coitada! Ainda de passinho em passinho, Laurindo foi abrindo as primeiras portas da casa para ver se os três realmente tinham saído de casa às cinco da tarde como os dois viram de longe, dentro da brasília verde que era de Felipe.
(Ahh … Esse é o melhor Natal da minha vida!)
- Felipe! Vem logo e começa a brinca de velho do saco vermelho! – sorriu da própria piada.
- Ok, ok !
Tudo estava indo conforme os planos. Pega as coisas de maior valor e no máximo, fazer duas viagens ali da casa até a brasília até enchê-la. Laurindo entrou no quarto que parecia ser o do casal e cara …. aquilo sim era o paraíso! Tinha dois laptops daqueles que tem a maçãzinha do cara que morreu lá .. o esteve alguma coisa e um cofre bem do ladinho da cama.
- Sério, é muita burrice colocar o cofre do lado da cama .. mas fazer o que ? Vou ter que te levar pra casa pra saber o que tem dentro dessa porra.
Laurindo carregou os dois laptops em cima do cofre e levou-os até o carro.
- Adoro o Natal .. todo mundo vai passar o natal longe de casa e deixa presentes pra mim!
Depois de descarregado, voltou pra casa … ainda na maciota, sempre! Assim que entrou na casa, viu Felipe na cozinha e deu um sorrisinho pra ele e subiu as escadas para continuar o furto de fim de ano.
- É .. eu sei que é triste para eles quando chegarem em casa e ver que tudo foi embora. Mas o que posso fazer ? Felicidade de uns, infelicidade para outros.
Quando terminou de subir as escadas, foi direto para a porta do quarto do casal … com certeza devia ter mais coisinhas valiosas para o Papai Noel!
- MAS QUE MERDA É ESSA ?
Bom … quando ele havia descido as escadas, não tinha deixado nenhuma porta aberta sem ser a do casal … mas agora tinha uma porta aberta no fundo do corredor. E pior, com a luz acesa ainda!
- Felipe! Você veio aqui pra cima ?
… Silêncio.
- Porra Felipe! Responde, mano!
… TUNNNNN !!!
- FELIPE! PORRA! JÁ FALEI QUE NÃO É PARA FAZER BARULHO!
Laurindo correu até o pé da escada para ver o que aquele glutão estava fazendo na cozinha. Já havia dito para o desgraçado
… quando for roubar uma casa, não fique dando sopa na cozinha. Porque você vai sair frito de alguma maneira!
Assim que chegou na porta da cozinha, só pode ver as marcas dos dedos gordos de seu companheiro pintadas em sangue na parede.
- MANO! Você se corto com alguma faca ou alguma coisa ? – disse enquanto andava devagar .. sem fazer barulho.
… TUNN.
Foi estranho, e repentinamente tudo ficou vermelho.
- Laurindo … o Laurindo! OOhh LAURINDO!!!
- Felipe … se você gritar novamente em meu ouvido, eu juro, EU JURO QUE TE DOU UMA MUQUETADA, FELA DA PUTA!
- Você estava apagado seu idiota!
( Ooopaaa! Agora ai eu fiquei surpreso … ele nunca respondeu assim!)
- Como assim ? O que tá acontecendo aqui ?
- A velha porra! A velha não foi embora com o casal!
- A gente viu ela saindo seu idiota!
…. aaaa , aquele sorriso que só uma velha decrépita consegue fazer.
- Você tem certeza? – Disse a velha.
- PUTA QUE LA MERDA!
…. sim, o sorriso da velha era mais estridente a cada segundo e quando percebeu que estava trancafiado dentro da Brasília e totalmente amarrado, o sorriso era mais demoníaco ainda.
- Bom, acho que vocês sabem que o Papai Noel não dá presentes para garotinhos que foram desobedientes no natal, certo ?
- Sua velha idiota! Se você não me tirar daqui agora, quando eu sair, e eu vou sair , vai ser muito pior para a senhora.
- Calma, senhora a gente pode resolver isso sem violência, por favor! – Felipe dizia isso enquanto babava e junto com a saliva que saia de sua boca, o sangue do corte que a bochecha fez quando chocou-se com seus dentes.
- Cale a boca seu gorducho! – gritou a matrona. – Quer saber ? Você tá bem gordinho, pode até brincar de ser Papai Noel … vamos ver o que tem dentro do seu saco?
( Essa velha era para estar morrendo! Como ela conseguiu deixar eu e o balofo inconscientes?)
Antes que Laurindo pudesse pensar em qualquer outra coisa ou pedir perdão, a velha pegou a barra de ferro com que abateu os dois anteriormente e com uma força tremenda, bateu de cima para baixo onde deveria ficar as bolas de Felipe.
- Ohhhh … o que você tem nesse saco Papai Noel ? Será que tem tão pouco presente ai dentro que ele já está murcho ?
Ela levantou a barra de ferro e bateu de novo no mesmo lugar. Aquilo deveria ser o próprio diabo em forma de mulher!
- Ahhh … o bebezinho já está chorando, está ? – o olhar dela ficou mais severo.
- Ah, que se foda! Morra sua velha, MORRA! – Felipe já estava no seu limite, coitado. As lagrimas que escorriam pelas suas grandes bochecha eram muitas.
- Ahh … sua mãe realmente não deve ter dado-lhe uma boa educação. – ela tirou a barra de ferro da parte pubiana de Felipe e alisou suavemente a barra de ferro na parte de trás da sua cabeça. – Vou te mostrar como educávamos crianças que falavam palavrões quando eu era uma mocinha linda.
- Realmente, deve ter sido há muito tempo, merda! – disse Felipe rindo.
.. O sorriso desse gordo era o daqueles que mostram até as gengivas. A velha não deve ter gostado desse último comentário.
… TUUNNNN!!!!
……. TUNNNNNN!!!!!
….……. TUNNNNNNNNNNNNNN!!!
O peito de Felipe agora estava encharcado de sangue e de pedaços de dentes que saíram de sua boca enquanto a velha batia com a pesada barra de ferro. Três vezes seguidas. Felipe devia estar morto, no mínimo inconsciente.
- Minha senhora! Olha o que você fez com o coitado! Por favor, pare, por favor!
- Ahh … olhe o que temos aqui. Um garoto que foi educado. Me diga agora rapaz, se você teve uma boa educação, porque a ignora roubando a casa de uma velinha ?
- Desculpe senhora! Juro que não farei mais isso! EU JURO! ME DESCULPE! – ahh .. espero que ela engula isso.
- Bom, vejamos. Temos que nos assegurar que realmente não faça mais isso, certo?
- Isso, ISSO! Eu juro que não irei mais fazer isso, eu juro minha senhora!
(Velha maldita, pare de brincar comigo.)
- A você é até que é bonitinho rapaz. Gostei de você, sabe pedir perdão.
A senhora, aquela que parecia ter noventa anos, deu um beijo apertado nos lábios de Laurindo. Ele tentou ignorar todos os seus nojos e repudiações em relação ao buço peludo daquela velha para ver se conseguia aliviar o seu lado.
- É .. agora vamos nos assegurar que nenhuma velinha indefesa possa ser roubada e beijada a força por um rapaz tão galante como você, certo ?
- Sim claro, por favor, me solte!
- Aaa, claro. Vou libertá-lo de todas essas amarras da sua vida. – Disse a velha cochichando.
… TUNNNNNNNNNNNNNN!!
…….TUNNNNNNNNNNNNNN!!!!
…………TUUNNNNNNNNNNNNNNNNNN!!!!

Sem comentários:

Enviar um comentário