Agonia
Já faz algum tempo. Não sei quantas
horas. Mas já faz algum tempo. Sinto o ar descontinuar. Sinto dor nos
meus braços, meus movimentos estão limitados. Como se eu estivesse numa
pequena câmara. O ar está acabando. Tento gritar, mas a câmara é tão
pequena que meu grito me ensurdece. Um colchão pouco confortável me
rodeia. Panos. Panos por todos os lados. Tento me lembrar do que
aconteceu antes d’eu chegar aqui. Eu estava doente. Eu estou doente.
Lembro-me de algo grave, pois todos falavam comigo com pena. Eu odeio
isso! Está tão ruim de respirar. Chamo por alguém, mas ninguém me ouve.
Eu estou na horizontal, sinto isso. Bato três vezes no teto, mas é
maciço atrás desses panos. Ninguém me ouve. Minha respiração é pesada.
Tento respirar lentamente para que o ar dure um pouco mais. Mas é em
vão. O ar já não é mais o suficiente. O oxigênio que nele continha já
está no fim. Arranho com as unhas o acolchoado, tento atravessá-lo.
Madeira! Tento arranhar a madeira, tento passar por ela, vejo que já não
tenho mais unhas, elas ficaram no teto. Junto com as pontas de meus
dedos. O ar está acabando. O escuro fica mais fosco. Mas foi só quando
eu espirrei por causa das flores que notei que tinha sido enterrado
vivo.
Caminhando sobre a Lua
Era
um jovem bastante criativo. Viajava muito e, por isso, aprendera várias
línguas. Seus pais sempre se preocupavam em suas viagens, pois, às
vezes, demorava muito pra voltar. E sempre que voltava trazia grandes
novidades dos lugares por onde passava, mas seus pais não o ouviam, não
se interessavam por suas histórias. A preocupação era tanta que nem dava
tempo de dar a atenção ao que queria dizer sobre tudo.
Conhecia
bastantes pessoas nessas viagens, mas achava que não era o suficiente,
pois seus pais sempre lhe apresentavam novos amigos que queriam saber
sobre essas viagens. Contava-lhes tudo o que acontecia, com bastante
entusiasmo. Não sabia o porquê, mas estes mandavam tomar remédios, mesmo
não sentindo dor alguma. E dizia que seria muito perigoso se ele não os
tomasse. Esses remédios faziam perder a vontade de viajar. Aliás,
tirava a vontade de fazer qualquer coisa. Ficava triste num canto do
quarto. Sem estar viajando e sem estar ali. Tinha muita vontade de ir à
Lua. Mas esses remédios lhe tiravam o ânimo.
Certa
vez, ele fingiu tomar os remédios. E, assim o fez por mais dois dias.
Sua alegria voltara, mas sabia que não poderia contar pra ninguém.
Estranho, mas eles não gostavam de vê-lo assim. Então, ele resolveu
viajar. Realizar o seu grande sonho de infância. Conhecer a Lua. E ele o
fez. Fez a sua tão esperada viagem. Ele conheceu a Lua. Uma viagem tão
espetacular, que jamais quis voltar. Jamais voltou.
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